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Coleção Marginália: as bordas do universo literário
Nas cartas e ensaios reunidos neste livro por Marina Bedran, o leitor encontrará o fascinante registro da amizade de dois gênios da literatura moderna: o escocês Robert Louis Stevenson e o americano Henry James.
O encontro entre os dois escritores nasce de uma discussão nas páginas da revista inglesa Longman’s, onde James publica em setembro de 1884 o célebre ensaio “A arte da ficção”, ao qual Stevenson responde três meses depois com o texto “Um humilde protesto”, de intento polêmico. A tréplica de James virá em âmbito privado, sob a forma de uma carta conciliatória e extremamente lisonjeira, onde se declara um entusiasmado admirador do “gênio” de Stevenson.
Nos dez anos seguintes (até a morte prematura de Stevenson em dezembro de 1894, aos 44 anos de idade), os dois amigos produzem uma correspondência notável em que as manifestações reiteradas de estima mútua, afetuosas e zombeteiras como acontece nas melhores amizades, nunca perdem de vista o interesse comum pela arte literária. A troca epistolar acompanha a jornada marítima de Stevenson até Samoa, mostra que ele refletia com tanta intensidade sobre seu ofício quanto James e inclui tiradas saborosas de ambos sobre a literatura da época, como esta bravata de Stevenson: “Kipling é de longe o jovem mais promissor que apareceu desde que – aham – eu apareci.”
James dedicaria dois ensaios ao amigo, ambos incluídos nessa edição: o primeiro, uma análise de sua obra; o outro, publicado após a morte de Stevenson, um tocante comentário biográfico a partir de suas cartas. Graças à pesquisa original de Marina Bedran, os leitores brasileiros têm agora acesso a um registro criterioso e o mais completo possível dessa amizade, que revela inesperados pontos de contato entre essas duas figuras-chave de vertentes fecundas, mas às vezes tidas por antagônicas, da literatura moderna.
Miguel Conde