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Um tarefeiro. Alguém que precisa fazer pequenos serviços: pegar um pacote, levar uma pessoa, trazer documentos. Nada muito complicado. Se os serviços não fossem clandestinos, a mando de um político, o governador de Goiás. Se os pacotes, as pessoas, os documentos pudessem existir fora dos quartos abafados de hotel, dos encontros furtivos em bares e apartamentos.
Malfeitos.
Em Abaixo do paraíso, sexto livro de André de Leones, encontramos Cristiano, o tal tarefeiro, dentro desse universo. Ele quer sair; mas há saída possível? Quem entra neste mundo de pastas e janelas fechadas jamais será a mesma pessoa que (se conseguir) o deixará. O protagonista deste romance vai se descamando, errando de cidade em cidade pelo Centro-Oeste brasileiro (Goiânia, Anápolis, Brasília) até chegar em sua terra natal, Silvânia.
Reconciliar-se: com a família, com a cidade, consigo mesmo.
O pai, a madrasta, a tia, a meia-irmã, o amigo-chefe, a ex-namorada, uma dona de hotel, coadjuvantes que ajudam a montar um quebra-cabeça propositadamente incompleto de um sujeito que está ali em corpo, mas não mais em presença, fantasmagórico. Uma personagem-latência, violência e sexo vibrando por onde passa, à maneira de João Gilberto Noll.
Quem acompanha a carreira do autor, encontrará De Leones no ponto máximo de sua breve, mas já consagrada trajetória. O romancista que se esmera na escolha das palavras, que domina os diálogos como poucos, que conta uma história que parece seguir sempre adiante, mas se espraia em memórias e tentativas de reconstrução. Abaixo do paraíso é um romance atual, mas nem por isso datado. A literatura pensando o mundo a nossa volta.