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Em 1928, o escritor e jornalista Roberto Arlt – morto aos 42 anos e hoje considerado um dos mais importantes nomes da literatura argentina – começou a publicar uma coluna diária no jornal El Mundo, de Buenos Aires. A capital argentina tinha então cerca de dois milhões de habitantes, muitos deles imigrantes ou filhos de imigrantes como o próprio Arlt, que tinha pai prussiano e mãe austro-italiana. A cidade que Arlt retratava em suas crônicas era uma metrópole cosmopolita e ruidosa, habitada por operários, pequenos funcionários, prostitutas, rufiões, ladrões, estelionatários e moradores de cortiços. Era uma visão ácida que destoava da adotada pela elite da Argentina, que considerava Buenos Aires “a Paris da América do Sul”. A coluna de Arlt recebeu vários nomes ao longo dos anos, mas ficou mais conhecida pelo título de “Aguafuertes porteñas”, em referência à água-forte, tipo de gravura feita por meio da ação corrosiva do ácido nítrico sobre uma placa de metal. Sem papas na língua, Arlt comentava situações e personagens típicos do dia a dia de Buenos Aires, sempre em primeira pessoa, ou contava histórias curtas, reais ou inventadas, muitas delas inspiradas em cartas que recebia dos leitores.
Em Águas-fortes cariocas, lançamento da Rocco pela coleção Otra Língua, organizada por Joca Reiners Terron, Arlt retrata a cidade do Rio de Janeiro nos anos 30 a partir de sua visão e escrita singular, que misturava linguagem erudita e coloquial, com termos e expressões usados pelos imigrantes e pelo povo, erros de ortografia e gramática. A coletânea, traduzida e organizada por Gustavo Pacheco, é a adaptação para o português da primeira edição argentina de Águas-fortes cariocas, com 40 crônicas compiladas e transcrição da coleção do jornal El Mundo disponível na hemeroteca da Biblioteca Nacional da Argentina. São apresentados em ordem cronológica 39 textos que Arlt escreveu no Rio de Janeiro publicados entre 2 de abril e 29 de maio de 1930.