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Camilo de Oliveira Santos é um bicho da terra e bichos da terra como ele não devem morrer. Morrer não, mas sofrer, e como. A trajetória de Camilo não é muito diferente da de crianças pobres que vivem em comunidades carentes no subúrbio da cidade. Sem pai, cometeu erros na infância, mais na adolescência e maculou a existência na vida adulta com sangue de outros. Se ele escolheu esse caminho ou foi levado a trilhá-lo, talvez nem o personagem saiba ao certo dizer. E é o que deve o leitor descobrir no romance Bichos da terra tão pequenos, do escritor, historiador e professor Joel Rufino dos Santos. Camilo é um homem com talento, reconhecido pela avó desde criança, para as letras. Sabe ler melhor que qualquer um em sua classe, tem habilidade natural para aprender. Se este talento ainda será usado para alguma coisa, o então Vinquinho, como é conhecido na infância, não sabe ainda. Sente, porém, que sua vida pode tomar um rumo inusitado, com contornos trágicos, ao fugir de casa com vergonha de erros cometidos quando garoto, deixando a mãe e a irmã para trás. Anos depois, o girino Vinquinho se transforma no Sapo, apelido que vai acompanhá-lo por toda adolescência, quando conhece seu mentor, o instrutor de futebol (Castru) Castoriano – também conhecido como Marujinho, filho de Marujo, que rodou o mundo pelo mar amparado por suas crenças no comunismo. É por meio de Castru que Camilo conhece Mariângela, cantora de muitos amores. É por meio de Mariângela que Camilo conhece a desgraça e a morte, ao se indispor com um dos amantes da amada. Agredido, tira a vida do algoz e conhece a vida na prisão, onde passa longos anos, tendo a oportunidade de amadurecer e, quem sabe, dar um destino mais digno à sua existência ao contar a história de sua vida, que quer transformar em livro. Bichos da terra tão pequenos é a saga de um brasileiro, pobre e negro – o racismo é destacado com força na narrativa –, como muitos que se conhecem no dia a dia da cidade do Rio de Janeiro. Camilo é a síntese de suas próprias vocações, vontades e decisões misturadas à influência das circunstâncias impostas pelo ambiente ao seu redor. Usando sua veia de historiador, Joel Rufino dos Santos reproduz com exatidão esse ambiente: o morro do Urubu, no subúrbio carioca de Tomás Coelho. É na comunidade que a história de Vinquinho/Sapo/Camilo se entrelaça com a de outros personagens, pessoas comuns que vivem uma rotina melancólica e, por vezes, violenta. O autor também se preocupa em situar a história do Rio do século XX como pano de fundo para a saga de seu personagem: removido temporariamente de prisão, Camilo vai parar numa cela cheia de presos políticos durante a ditadura militar, por exemplo. O próprio Joel foi perseguido, exilado e preso neste período. Bichos da terra tão pequenos também é uma história de pais e filhos. Camilo busca saber quem é o pai que não conheceu. Já Castoriano busca na figura de seus protegidos do time de futebol o filho que perdeu. Além disso, a narrativa, que também se detém em parte na figura do treinador, mostra um homem fascinado com a figura do pai, viajante dos mares cheio de ideias e ideais. Em meio a segredos guardados e pais e filhos desaparecidos, Joel Rufino dos Santos constrói um romance que destaca o extraordinário do ordinário.