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Quando algo que você esperava não dá certo, você lamenta, mas segue em frente, revendo processos ou aproveitando novas oportunidades criadas pelo “problema”? Ou se atormenta pensando no que poderia ter feito para evitá-lo, ficando paralisado, sem saber o que fazer, ou, pior, insistindo em agir da mesma forma – e que fatalmente irão levá-lo ao mesmo erro? Em geral, boa parte das pessoas vive o segundo caso. A falta de habilidade em lidar com as expectativas e a tentativa permanente de evitar o risco levam as pessoas a mergulhar no que o rabino Nilton Bonder chama de tsure, termo em iídiche para a aflição gerada pelos infortúnios. Diante desse cenário, o rabino indica que a solução é abraçar o risco e incorporá-lo, para que ele possa ser gerenciado, já que ele não pode – nem deve - ser evitado.
É esse conceito que o autor desenvolve em A cabala e a arte da manutenção da carroça – Lidando com a lama, o buraco, o revés e a escassez. O lançamento é o primeiro volume de uma série de sete livros inspiracionais sobre comportamento sob a ótica da cabala. Bonder diz que o risco é uma condição comum ao humano, afinal “o perigo é uma epiderme que roça a vida”. “Flertar com o risco mostrou-se um recurso inestimável para nossa civilização”, diz o autor.
Por meio de uma escrita sucinta, de leitura rápida, mas muito aprofundada, Bonder abre os capítulos contando sempre uma fábula. A estrela dessas histórias é sempre a figura da carroça, uma espécie de startup dos tempos antigos, que reunia inovação, engenharia e energia transformadas em negócio em si – os produtos eram vendidos sobre as próprias carroças sobre os quais eram transportados – e também era um instrumento de prospecção de novos negócios e oportunidades: “Antes de o mundo se concentrar em metrópoles e dispor de meios avançados de comunicação, a carroça era a loja-escritório e a empresa. De um ponto de vista simbólico, a carroceria representava o produto/mercadoria; as rodas, o marketing; e o cavalo, as vendas. O mercado, por sua vez, era o caminho por onde transitava a empresa, enfrentando entraves e contratempos”.
É a partir do que acontece com as carroças nas histórias – ela fica atolada na lama, ela tomba, o cavalo que a transporta morre – que o autor utiliza os princípios da Cabala, como a teatralidade – quando um objeto ou situação é decomposto em quatro diferentes esferas – para analisar os riscos nas quatro formas elencadas pelo rabino: a lama, que se dá no plano físico e representa a vulnerabilidade; o buraco, que se dá no plano emocional e representa a incerteza; o revés, que se dá no plano intelectual e representa a complexidade, e a escassez, que se dá no plano espiritual e representa a ambivalência (a escassez pode ser apenas uma forma na qual a abundância se apresenta ou se oculta). A partir dessa estrutura, Bonder oferece aos leitores a possibilidade de avaliar os riscos, abraçá-los e virá-los a seu favor, mantendo a “carroça” (negócios, planos, projetos) em plena atividade.