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Imagine Kirk e Spock, da série de TV Jornada nas estrelas, vivendo um tórrido caso amoroso. Ou o amor entre a humana Bella e o vampiro Edward, da série de livros Crepúsculo, chegando às últimas consequências físicas e emocionais. São histórias que jamais foram ao ar pelas mãos de seus criadores, mas que existem nos vários universos criados pelos fãs dessas e de outras obras da literatura e da cultura pop e que ganham vida por meio das fanfictions. Mais do que inspirar-se em personagens e histórias consagradas, as fanfics, como são conhecidas, propõem uma nova forma de contar histórias. Nelas, os fãs se apropriam daquilo que gostam e se identificam e recontam e criam novas narrativas.
Em Fic – Por que a fanfiction está dominando o mundo, a professora americana de Letras e PhD em Literatura Comparada por Princeton Anne Jamison explica as origens da fanfiction, que datam do fim do século XIX, com histórias sobre Sherlock Holmes, e faz uma análise dessa nova narrativa a partir de obras da literatura e da cultura pop e sua evolução até hoje. Foi a partir dos anos 1960, com a expansão da TV e da cultura pop, que a tendência tornou-se um padrão constante.
Segundo Anne Jamison, a fanfiction afirma os direitos dos narradores de tomar posse de personagens e narrativas de outras pessoas e contar suas próprias histórias — expandir e construir em cima do original e, quando necessário, ajustá-lo e otimizá-lo para cumprir seus próprios objetivos. Fanfics abriram espaço para temas complexos e variados, indo além de limites entre gêneros sexuais e gêneros literários, raças, cânones, corpos, espécies, passado e futuro, consciência e inconsciência, ficção e realidade.