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O pai morto é um romance extraordinário, no qual Donald Barthelme exercita com maestria o senso de humor inconfundível que influenciou uma geração inteira de escritores dentro e fora dos Estados Unidos. A originalidade da sua estrutura, composta por capítulos que se aventuram por diferentes estilos e assuntos numa alternância repentina, torna-o um livro de difícil definição. Seu enredo, que não é menos inusitado, talvez possa ser resumido simplesmente como uma celebração desvairada e libertina da morte do seu protagonista.
Morte em termos, pois o Pai Morto é um defunto inconformado com sua condição. Enquanto vai sendo arrastado a contragosto para um destino que ignora, faz questão de exprimir sua contrariedade por meio de uma série de ordens, máximas e imprecações ameaçadoras. Os protestos não conseguem interromper, porém, o falatório meio indecoroso que se desenrola no cortejo à sua volta. Logo notamos que, em vez de luto, este enterro é a ocasião de um grande carnaval literário em que vale quase tudo – fábulas de moral duvidosa, diálogos íntimos, definições enciclopédicas, reflexões metafísicas, aventuras sexuais – com uma única condição: que seja divertido para o leitor.
“Um clássico é um livro que nunca acabou de dizer o que tem a dizer”, segundo a bela definição de Italo Calvino. Quarenta anos depois de sua publicação original, em 1975, a multidão de vozes que povoa este romance continua tendo sempre algo de inesperado a nos contar, e soa sobretudo como um irresistível convite ao prazer da leitura. Nas palavras do prefácio de Donald Antrim: “Lendo O pai morto, sentimos que o autor desfruta de uma liberdade artística quase completa, uma permissão para remodelar, deturpar e até ignorar o mundo como ele se nos apresenta. Rindo com o autor, escapamos da ansiedade e nos sentimos vivos.”