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"O biógrafo é um comerciante de detalhes", afirma Pierre Assouline na introdução de Rosebud. O título é uma referência ao filme Cidadão Kane, de Orson Welles, uma espécie de cinebiografia do magnata da imprensa William Randolph Hearst, que expira nas telas apegando-se a uma lembrança escondida em sua infância. São esses pequenos detalhes que definem uma vida que Assouline vasculha nestes fragmentos de biografias, descrevendo personalidades tão diversas quanto o escritor e poeta inglês Rudyard Kipling e o prefeito da cidade de Eure-et-Loir, Jean Moulin, símbolo da resistência à ocupação nazista na França. Para Assouline, é nos pequenos detalhes "que se desenrola o essencial do teatro de sombras" de seus biografados. "Há mais de trinta anos que eu busco esse rosebud (botão de rosa) em todas as pessoas", revela. O autor descreve a paixão de Kipling por automóveis e a dor do poeta ao ver seu filho desaparecer na Primeira Guerra Mundial, onde foi levado a combater por sua insistência e pelo peso do sobrenome; relata a ligação do fotógrafo Henri Cartier-Bresson com a pintura e o fascínio que um quadro de Goya exercia sobre ele; investiga a influência dos campos de trabalhos forçados, do tempo e da falta de raízes sobre a obra do poeta Paul Celán e o conteúdo dos bolsos do artista quando cometeu suicídio; revela os dois endereços em Paris onde as vidas e as obras do escritor Honoré de Balzac e do pintor Pablo Picasso se cruzam; e a obsessão do pintor Pierre Bonnard em espreitar seus próprios quadros, já expostos em museus, para retocá-los às escondidas – o artista considerava todos os seus trabalhos inacabados. Ao longo do livro, Assouline também espalha detalhes de biografias de outros personagens, entre os quais o testamento de Orson Welles; o fascínio que Cidadão Kane exerce também sobre o escritor Carlos Fuentes e sobre o cineasta Steven Spielberg, que comprou o que acredita ser o “Rosebud” do filme; o abandono do escritor inglês John Le Carré pela mãe; a necessidade da escritora Marguerite Duras de arrumar a cama todas as manhãs, ou não conseguia trabalhar; e os últimos dias do dramaturgo Samuel Beckett, em Paris, quando só deixava seu quarto em um asilo para limpar a cozinha de um velho casal de músicos, amigos seus.O casamento entre o príncipe Charles e a princesa Diana é descrito em um capítulo especialmente irônico, com o foco do autor voltado para os sapatos dos convidados reais – o ex-ministro David Owen, por exemplo, fere as regras da elegância britânica e os próprios pés ao estrear calçados novos, quando a etiqueta manda que os cavalheiros atribuam a um criado a tarefa de amaciá-los. Ainda durante a cerimônia, Assouline aponta pequenos sinais de decadência da aristocracia e os maus presságios, mais tarde confirmados, que marcaram a união.